Unidade da esquerda. Qual esquerda? Novas alternativas políticas em construção no Chile.

Segue abaixo excelente entrevista de Francisco Figueroa, um dos militantes de esquerda que foram projetados pelas grandes mobilizações estudantis chilenas em 2011, quando ele era Vice-Presidente da Federación de Estudiantes de la Universidad de Chile (FECH). Figueroa compõe a Izquierda Autónoma, coletivo nacional do movimento estudantil, e será um dos candidatos a Deputado apresentados pelo grupo às eleições que acontecerão neste ano no Chile, assim como outras(os) ex-líderes estudantis. Ele é ainda diretor da Fundación Nodo XXI, criada em 2012 para aprofundar a formação política, a formulação programática e a articulação da Izquierda Autónoma com outros atores políticos.

A estratégia da Izquierda Autónoma e de outras forças é seguir forjando e fazer incidir nas eleições (tanto parlamentares como presidenciais) a unidade da esquerda que luta pela democratização radical da política, pela superação do neoliberalismo e por um modelo socioambientalmente sustentável e justo de desenvolvimento, tendo como horizonte estratégico a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. É em torno dessa plataforma, dessa estratégia e da articulação de movimentos concretos com esse vetor que se fala de unidade. E não a “unidade” à qual convoca a Concertación, encabeçada por Michelle Bachelet (do Partido “Socialista”, hoje mais ou menos tão “socialista” quanto o PSB no Brasil…), com um discurso de pseudopolarização com “a direita”. Ora, a Concertación é aliada da direita, não promoveu mudanças estruturais nos 20 anos em que governou; pelo contrário, executou seu projeto político. Não bastasse isso (o que já seria suficiente para no mínimo criar desconfianças), não aponta com firmeza agora, sequer por oportunismo, para um programa de superação do neoliberalismo. O seu retorno à Presidência é a grande esperança das classes dominantes chilenas, para desmobilizar e aplacar os movimentos sociais.

Unidade, sim, mas não unidade com nossos adversários (as grandes empresas, o fundamentalismo, etc.), muito menos em blocos hegemonizados por eles! No Chile, como no Brasil, é preciso persistir na abertura de novos caminhos, sin ceder nuestros sueños.

Todo el aguante y apoyo desde Brasil, compañeros de Izquierda Autónoma!

Ver também, aqui no blog: – “Politizar demandas corporativas: o êxito do movimento estudantil chileno“; – “Francisco Figueroa: Uma nova reforma universitária para a América Latina“; – “No Chile, o Brasil que não queremos: termoelétrica de Eike Batista X Biodiversidade  e Comunidade de Pescadores“.

Francisco Figueroa: “Esta generación no puede arrodillarse ante al binominal”

Ana Rodríguez y Pablo Vergara 04 Abril, 2013

El 2011 fue vicepresidente de la FECH y junto a esa hornada de dirigentes estudiantiles lideró las masivas movilizaciones que enfrentaron al gobierno. Hoy quiere postularse a la Cámara para proyectar políticamente el movimiento y crear una nueva mayoría política y social, al margen de la que quiere hacer Bachelet.

La próxima semana presenta el libro en el que estuvo trabajando todo el 2012. Es, dice, un híbrido entre crónica y ensayo que cuenta cómo se gestó el movimiento estudiantil de hace dos años. Eso, en las ideas, porque desde hace rato que Figueroa, ex vicepresidente de la FECH, se encuentra trabajando en cómo proyectar la izquierda autónoma en estas elecciones. Él mismo se prepara para presentarse a diputado.

¿Qué pasó el 2011 que no ocurrió el año pasado?
-La del 2011 fue la primera movilización social que hace presente ante la sociedad chilena las deudas de la transición, en términos de restricción de derechos, estrechez de la democracia; cosas que muchas movilizaciones intentaron poner sobre la mesa pero sin mayor éxito. Estamos hablando de la movilización estudiantil quizá más grande la historia de Chile y sin duda la más grande de los últimos treinta años. En los años posteriores lo que hay es una cuestión natural: un período más bien de cansancio en la base pero de vigencia total en las demandas. La mayoría de los chilenos sigue estando por concretar los anhelos del 2011. Educación gratuita, fin al lucro y un cuestionamiento bien fuerte a la democracia. Continuar lendo

Sarkô na berlinda

Por João Vitor Loureiro

Eleições. Galope. Nicolas Sarkozy volta a sorrir diante da recente conquista de uma fatia das intenções de voto dos franceses e liderança em pesquisa eleitoral.

O sorriso de Nicolas tem um aliado indispensável: a sedução do eleitor indeciso – que sinceramente não sei se numericamente expressivo na política francesa – e do eleitor à direita da direita, que diante da inviabilidade da candidatura de Marine Le Pen, enxerga em Sarkô um horizonte real de implementação de suas expectativas.

Real? Sim, real. O “virage” de Sarkozy nas pesquisas pode ser explicado em parte pelas recentes e ousadas declarações de revisão do Acordo de Schengen, que estabeleceu a livre circulação de pessoas em países que integram a União Europeia: se o acordo foi, em algum pretérito, rearranjado, o intuito era fortalecer políticas comunitárias de concessão de vistos, facilidades de imigração, e não o contrário, o que vem dando azo à fragmentação da tão sonhada Comunidade Europeia.

Esse desfacelamento gradativo do edifício jurídico-político-institucional europeu não encontra outra explicação senão a crise que grassa as finanças soberanas, alastra resfriados e constipações em cadeias produtivas, e solapa a possibilidade de revigoramento da integração entre as nações do Bloco.

ImageEstado supranacional Europeu se tornou sinonímia de fuga da igualdade formal entre seus membros. Igualdade com o objetivo de condução comum do futuro da UE, essa não existe. Não existe nem mesmo como forma, se todo o conteúdo das políticas de integração e cooperação do Bloco se vê ameaçado pelos disparates de governos nacionais. Governos nacionais cujo único ídolo a que prestam devoção são grandes instituições financeiras, bancos, inventando inúmeras fórmulas para eleger tecnocratas, apagar incêndios com pacotões de ajuda financeira e enxugamento de gastos públicos.

Quem diria que o sólido projeto começa a sinalizar seu desmanchar no ar, em razão diretamente proporcional à escalada de um novo nacionalismo, fantasma recorrente da história continental? Um nacionalismo que seduz jovens corações, iludidos nas potencialidades do isolamento, do protecionismo atroz de empregos que não existem, de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários que viram pó ao menor sinal das exigências de financistas?

Quem diria…

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Quem diria que Sarkozy, essa estimada figura entre as forças conservadoras que arquitetam o implosivo futuro da UE, é suspeito de receber financiamento da campanha de 2007 de…Muammar Gaddafi? Uma ajudinha estrangeira não é das piores ideias, não é mesmo?

“Étrangers, dehors!” (“Estrangeiros, fora!”) nem sempre é regra, afinal.

A cultura como espaço de transformação social

Por Gabriel Santos Elias

Quando falo de transformação, falo no sentido de redução de desigualdades econômicas, políticas e de reconhecimento. Da articulação de uma nova organização social que inclua mais e mais pessoas no espaço público e na tomada de decisões, falo de uma política mais justa e mais humana. Essa disputa política deve ser feita em todas as frentes e acredito que a cultura é um espaço privilegiado de disputa política por uma transformação profunda da nossa sociedade. Assim, falo da produção, para constante reprodução e adaptação, de uma nova cultura, dinâmica e que avance na conquista de nossos ideais para a sociedade

Fortemente influenciados pelo enquadramento da mídia, temos uma imagem negativa da política representativa. Como conseqüência, muitas vezes escolhemos a apatia e desinteresse ou a eterna desilusão de quem se preocupa. Isso ocorre pela centralidade que damos ao papel do Estado e dos nossos representantes nessa transformação. A cada eleição temos esperança de que algo finalmente possa dar certo, sendo que a história normalmente nos mostra o contrário.

Devemos reconhecer, sim, a importância da disputa política institucional, aquela que é feita na luta pela vitória em eleições, construção de políticas públicas em instituições estatais e em instituições da sociedade civil, como ONGs e Associações. Mas é importante ter em mente que somente esses mecanismos institucionais não são capazes de realizar a transformação que queremos. Temos que transformar a cultura política da nossa sociedade juntamente com o Estado a que nos submetemos, organizamos e disputamos para também transformá-lo.

Dois problemas são os que mais limitam a transformação social que desejamos: a restrição de participantes do processo político e no debate público e as práticas viciadas que estes participantes sustentam.

Pois a cultura é um importante espaço de transformação social justamente por construir um caminho para resolver esses problemas, atraindo mais pessoas para o debate público, por sua abordagem diferenciada dos temas; e incentivando a criatividade política, através de práticas inovadoras, facilitadas pela maior diversidade de novos atores no espaço público.

A cultura é um espaço naturalmente mais atrativo para pessoas que sofrem uma justificada resistência com a política do púlpito, dos longos discursos, dos vícios de linguagem em palavras e siglas difíceis de entender. A cultura é diversa e dialoga com o cotidiano e com interesses das pessoas nela inseridas, seja na MPB, no rap, funk, grafitti, capoeira ou qualquer outra forma de expressão cultural. Essa diversidade deve ser aproveitada para incluir e ampliar também a diversidade de vozes no debate sobre os problemas da nossa sociedade e as possibilidades de mudança.

Ao mesmo tempo, a cultura é um espaço de criatividade. A inclusão de mais pessoas e a maior diversidade de meios de interação propiciam a inovação das práticas bem como uma reflexão diferente, mais profunda e ligada à realidade que essas pessoas vivem. A inovação e a criatividade geram uma forma diferente de fazer política que atrai mais pessoas, tornando o ambiente ainda mais criativo e atrativo.

É estabelecido, assim, um ciclo virtuoso que inclui cada vez mais pessoas no debate público trazendo novas idéias, o que inova a prática política e na ação pela transformação, aumentando o potencial do povo para a autodeterminação de seu futuro através da construção coletiva do poder popular.

O resultado dessa transformação poderá ser visto nas urnas e nas instituições políticas, mas como reflexo de uma transformação inserida no nosso cotidiano, através dos valores que estabelecemos, das práticas que sustentamos e das mudanças que buscamos na sociedade.

Twitter: @GSantelli

As eleições e a autonomia dos movimentos sociais

Por Gabriel Santos Elias

Tenho escutado uma posição muito preocupante nessas eleições desde o fim primeiro turno. Boa parte vem de pessoas que admiro pela coerência e militância, pelo respeito e pela importância que dão aos movimentos sociais. Justamente por compartilhar de tantos ideais e práticas com essas pessoas que muito me estranha as posições divergentes que tomamos quanto ao voto neste segundo turno.

Meu voto é em Dilma. O voto desses meus companheiros é nulo. O motivo, por incrível que pareça, é o mesmo: a importância dos Movimentos Sociais para a transformação real da sociedade, tão desejada por todos nós.

A crítica que fazem é de que o Governo Lula teria cooptado os movimentos sociais. Na avaliação do meu próprio candidato do primeiro turno, Plínio de Arruda Sampaio, as duas candidaturas seriam inclusive “igualmente hostis” para os movimentos sociais, equiparando a repressão de Serra à desmobilização que o Governo Lula teria causado nos movimentos sociais.

Tomo o desafio de discordar veementemente dessas pessoas que tanto admiro. Acho que a confusão que estão fazendo é sobre o papel do Governo e o papel dos movimentos sociais nessa conjuntura.

Concordo que houve, sim, um arrefecimento nas lutas sociais durante o Governo Lula. Desde 2003, em seu discurso de posse, Lula não demonstrou contar com a pressão dos movimentos sociais para Governar. Preferiu fazer a disputa na negociação com os atores já inseridos no processo institucional. Podemos discordar dessa opção, mas dizer que essa é a causa da desmobilização do movimento social brasileiro é muito arriscado.

Aos que criticam o Governo nesse sentido, o que deveria ser feito por ele? Chegar para a UNE e dizer: “Pô galera, deixa de ser pelega. Bate um pouco mais na gente aê..” Esse seria o cúmulo do paternalismo na relação do governo com os movimentos sociais. É isso que o movimento social brasileiro está querendo?

O que o Governo fez ao tomar posse foi o que todo governo deve fazer, buscar apoio para governar. Cabe ao movimento social, autonomamente, decidir se apóia e/ou participa do Governo de alguma forma, ou não.

Acredito, sim, que os movimentos sociais devem se organizar mais na luta para pressionar por avanços. O Governo por si só não é capaz de atingir os objetivos que pretendemos, são as limitações da dinâmica institucional. Mas garantir nossa autonomia em relação ao Governo, nos mobilizar, protestar e pressionar é um dever nosso! Como falar de autonomia em relação ao Governo se dependemos de uma iniciativa do próprio Governo para isso?

O engraçado é que temos o mesmo objetivo: buscar mais mobilização dos movimentos sociais para pressionar por mudanças concretas na nossa sociedade. O desafio já é grande, pois se percebe a necessidade de uma renovação nas práticas dos movimentos. Eu só não consigo entender como um Governo repressor aos movimentos sociais, que dialoga na base do chumbo pode ser um contexto melhor para atingirmos nosso objetivo.

Se queremos reorganizar os movimentos sociais para que sejam instrumentos de pressão de fato para que avancemos nas pautas que defendemos, temos que garantir um Governo que não reprima os movimentos sociais e seja minimamente aberto a algum diálogo democrático. Garantir a nossa autonomia nesse contexto é tarefa nossa, passá-la para o Governo é registrar a declaração de incompetência. Na minha avaliação, votar na Dilma é garantir um melhor cenário para a reorganização dos movimentos sociais no Brasil. Votar nulo é deixar que a sorte decida. Não me parece ser um bom momento para deixar nas mãos da sorte.