Francisco Figueroa: Uma Nova Reforma Universitária para a América Latina

“Estou convencido de que se necessita de uma Nova Reforma Universitária. Destaco o ‘nova’ porque de nada serve repetir as bandeiras do reformismo do século XX, seria como uma gagueira na história, hoje as sociedades exigem outras coisas das universidades. Em primeiro lugar, reforma situada, ou seja, a partir da realidade e dos desafios das sociedades latino-americanas. Não a cópia dos modelos centrais, norte-americanos ou europeus, de universidade. A América Latina seguirá sendo uma região dependente, desigual e com forças conservadoras demasiado poderosas, se não reduzir a dependência dos países centrais, se não combater a concentração do conhecimento e da cultura, se não se comprometer com a formação de cidadania. Por isso, uma nova reforma deveria no mínimo providenciar um forte investimento e apoio à produção de conhecimento, existência de democracia nas instituições e fomento à participação das comunidades, para formar cidadãos comprometidos com a sociedade e não apenas com seus bolsos (esse espírito leva à destruição da sociedade), e um compromisso direto com a redução das desigualdades de classe, gênero e culturais. E em segundo lugar, uma reforma baseada na liberdade do conhecimento, que compreenda que todas as formas de propriedade privada sobre o conhecimento são hoje mais um obstáculo do que um incentivo para sua descoberta e desenvolvimento, como se pensou no século XIX e todo o século XX. A capacidade de inovar é a principal riqueza das sociedades, o que mais imprime valor a suas economias e cria mais possibilidades para seu desenvolvimento sustentável. O acesso ao conhecimento deve ser livre, para assim poder atualizá-lo, desenvolvê-lo e utilizá-lo em benefício das necessidades coletivas. E claro, uma reforma assim só é realizável com universidades devidamente sustentadas pela sociedade através dos Estados, não com uma educação superior fragmentada pelo mercado, marcada pelo imediatismo empresarial.” Continuar lendo

Convite: Fundação da Seção DF do Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais

Às Pesquisadoras e Pesquisadores comprometidos com a luta popular,
Às Educadoras e Educadores, assessoras e assessores populares,
Às mulheres e homens que integram os Movimentos Sociais e lutam pela transformação da sociedade,

Em nome da construção de uma pesquisa comprometida com os movimentos sociais para a luta e conquista da emancipação social, foi criado, com caráter nacional, na cidade de Goiás, em 26, 27 e 28 de abril de 2012,o IPDMS – Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais.

O IPDMS apresenta-se como espaço de aglutinação e fortalecimento de pesquisas voltadas à resolução de problemas concretos da sociedade, a partir das demandas e vivências dos Movimentos Sociais. Isto tendo como base a Pesquisa-Ação e Pesquisa Participante aliados a processos de Educação Popular e como princípios o compartilhamento da produção de conhecimento com os sujeitos envolvidos nos processos de pesquisa, o trabalho coletivo e o protagonismo dos movimentos sociais e estudantes pesquisadoras e pesquisadores.

A fim de concretizar uma perspectiva nacional do Instituto de Pesquisa, que caminhe lado a lado com a compreensão da diversidade e pluridade das localidades, foram pensadas inicialmente seis grandes seções do IPDMS: Norte, Nordeste I (MA, PI, CE, RN), Nordeste II (PB, AL, PE, BA e SE), Centro Oeste, Sudeste e Sul. E, a partir dessa ideia, as seções estão sendo formadas e discutidas e subseções estão sendo criadas, com a finalidade de garantir o máximo de capilaridade às pesquisas e ações de formação.

Como parte desse processo, criaremos a subseção Distrito Federal nos dias 16/08 e 17/08 no prédio da FA – Universidade de Brasília (Asa Norte) e convidamos a todas as lutadoras e lutadores do povo para construir esse importante espaço de luta.

Veja a programação:

16 de agosto (quinta-feira)

18:00 – Mística e Fala de Abertura – o IPDMS ficando raízes no Distrito Federal

– Diana Melo Pereira (UNB, IPMDS – Secretaria Executiva)

19:00 – Leitura da realidade a partir da onde se pisa: Movimentos Sociais no Brasil e no Distrito Federal

– Rosângela Piovizani (Via Campesina e Movimento de Mulheres Camponesas)

– Juliana Amoretti (Assembléia Popular)

20:00 – Grupos de Trabalho – Levantamento de demandas no DF e no Brasil com repercussão no DF

17 de agosto (sexta-feira)

18:00 – Mística e apresentação da produção dos Grupos de Trabalho

19:00 – Que Pesquisa em que Direito queremos
– Fernando Dantas (Professor e pesquisador do Programa de Pos-graduacao em Direito da PUC PR e do Centro de Estudos Sociais America Latina – CES AL),
– Diego A. Diehl (Professor UNB, Advogado Popular, AJUP-DF)

20:00 – Grupos de Trabalho – Dando cores candangas ao Plano de Trabalho do IPDMS

21:00 – Fundação da Subseção DF

HONESTINO GUIMARÃES – (Não) CANDIDATO À REITORIA DA UnB

Nasce um novo Movimento na Universidade de Brasília: o Honestinas. Segue abaixo a carta de apresentação da (não)candidatura de Honestino Guimarães à Reitoria da UnB.

Blog das Honestinas: http://movimentohonestinas.wordpress.com/

Honestinas no face: http://www.facebook.com/MovimentoHonestinas

Meu nome é Honestino Guimarães. Sou estudante de Geologia e militante do movimento estudantil, mas fui jubilado por razões políticas pouco antes de me formar. Entrei na UnB e me engajei em um projeto de Universidade não-hierárquica, e comprometida com a transformação do Brasil, porém esse sonho foi abortado por tanques a serviço de forças conservadoras.

Superamos uma ditadura escancarada, mas ainda hoje precisamos enterrar o seu legado autoritário e fechado à participação e à emancipação social. Lutei contra um passado que ainda se faz presente por meio da indiferença da Universidade às lutas populares, da ilusão ideológica do conhecimento despolitizado, da elitização e da repressão velada à real democracia. Por uma botina militar, tornei-me desaparecido. Hoje, por outras botinas, não posso ser candidato. O meu corpo desaparecido é multidão. Simbolizo as ideias de um Movimento que se aglomera e convoca para questionar, transformar e criar. Sou a luta por um futuro que ainda não se realizou.

Um espectro ronda a UnB, o espectro das Honestinas.

Greve nas universidades: oportunidade para produção de conhecimento!

Muita gente imagina que uma greve seja útil, como instrumento de luta dos trabalhadores, apenas pelos prejuízos que causa ao empregador – que se vê pressionado, assim, a atender à pauta grevista. Com base nesse raciocínio é que muitos criticam greves de professores universitários: elas prejudicariam mais os estudantes do que o empregador (o Estado, no caso das universidades públicas), e portanto teriam utilidade limitada.

O que muitas vezes se esquece é que a greve oferece uma outra grande possibilidade: ela libera o tempo dos trabalhadores para que se organizem e se mobilizem pela sua causa. Greve não é igual a férias! Caros e caras professoras, servidoras e colegas estudantes: o objetivo de uma greve não é ficar de pijama em casa ou adiantar a produção daquele artigo cujo prazo está vencendo… O objetivo é avançar na luta pelos direitos à educação e ao trabalho digno.

Que atividades de mobilização podem ser feitas? Duas ideias clássicas em greves docentes são (i) passeatas, manifestações em frente ao MEC ou ao Ministério do Planejamento (em especial para greves da UnB); e (ii) aulas públicas de certos professores. Porém, o fato é que ir a uma passeata, participar de, digamos, uma Assembléia-Geral por semana e dar uma aula pública uma vez na vida durante a greve ainda é muito pouco, comparando com todo o tempo livre que um professor e um estudante passam a ter quando estão em greve. Compartilhar cartazes no facebook é legal, dá uma forcinha ao movimento, mas também está longe de ser suficiente para alcançar vitórias reais que tornem a educação e a valorização do trabalho eixos estratégicos centrais para um projeto de transformação da realidade brasileira.

Pode ser que muitos professores e estudantes não façam mais do que isso – ou não façam sequer isso – por pura preguiça ou individualismo. Porém, tenho a impressão de que muitos não fazem mais porque não têm ideia do que fazer.

Tenho uma sugestão a apresentar, a partir do aprendizado recente com o movimento estudantil chileno: que sejam criadas comissões para pensar a universidade e a educação pública no Brasil, produzir diagnósticos e propostas.

No ano passado, os estudantes permaneceram meses em greve em inúmeras Faculdades no Chile, no contexto da luta nacional do movimento estudantil pela educação pública, gratuita e de qualidade. Talvez você esteja pensando: “Greve dos estudantes? Qual é o sentido disso?”. O sentido é, além da pressão política produzida pelo só fato de entrar em greve, liberar o tempo dos estudantes para se mobilizarem!

Mas, se mobilizarem como? Aí é que tive minha maior surpresa positiva em terras chilenas: a qualidade dos trabalhos produzidos pelas comissões criadas pelos estudantes durante a greve, para analisar e levantar propostas em diversas frentes imbricadas com o direito à educação. Dentre todas, a Comissão cujo trabalho foi mais frutífero – porque perseverou durante vários meses, inclusive após o término da greve – foi a Comissão sobre Reforma Tributária criada por estudantes de Direito e por estudantes de Economia da Universidad de Chile – não para pensar uma reforma tributária em abstrato, mas para pensar uma reforma condizente com os princípios e objetivos da luta política do movimento estudantil. Os estudantes, desempenhando papel de legítimos “intelectuais orgânicos”, produziram um documento extremamente aprofundado (comentarei-o em breve por aqui), que mostra que o movimento estudantil é capaz de ir muito além de palavras de ordem, e mobilizar seus conhecimentos e capacidades para propor transformações concretas.

A Universidade de Brasília, onde estudo, é depositária de imensa reserva de conhecimentos, capacidade de pesquisa e de criação. É hora de colocá-la a serviço do projeto de emancipação social do Brasil, como sonhava Darcy Ribeiro. A greve não está aí para atrapalhar esse projeto, mas para potencializá-lo.

É verdade que as greves de pijamas realizadas nos últimos anos têm obtido apenas pequenas conquistas. Não podemos tomar isso como se fosse o destino inevitável de qualquer greve. Se pusermos o tempo liberado pela greve a serviço da mobilização, seremos capazes de alcançar resultados muito mais expressivos, capazes de lançar novas bases para a valorização do professor, da universidade e da educação brasileira.

Mobilizemo-nos nas ruas, nas Assembléias, nas redes sociais, mas também, produzindo conhecimento!

Não estou querendo que ninguém diga ao filósofo o que ele vai fazer. Quero é dizer ao filósofo que participe do debate com o matemático, com o economista, com o geólogo: o Brasil é nossa causa. A luta contra o atraso é nossa guerra e nessa guerra a universidade toda está envolvida, a filosofia também.” Darcy Ribeiro, “Universidade Para Quê?”, 1986.