Por João Telésforo Medeiros Filho
“Atenção, atenção! Os atores principais, presentes aqui nesta praça, solicitam aos figurantes que até agora estiveram no poder que se retirem! Delicada e naturalmente, dizemos: é a vez da voz que vota, é a vez da voz que veta! Quem elege é quem derruba, não se iluda! ”
Sinfonia das Diretas (Sinfonia das Buzinas) – Comício das Diretas Já, Brasília, 1984
“Quem nos tiraniza, abusa, arrasa, azucrina; a razão resolve, buzina, Brasília, buzina!“
177 motoristas formavam a orquestra da Sinfonia das Buzinas, executada para 30 mil pessoas no grande Comício das Diretas em Brasília, no dia 1º de junho de 1984. Com música do maestro Jorge Antunes e poemas de Tetê Catalão, foi escrita para um declamador, uma orquestra de automóveis tocando buzinas, um coral, efeitos eletrônicos e instrumentos (entre os quais um naipe de panelas, daí os versos: “Um dia é do caçador, o outro é da caçarola!”). Ouça aqui versão compacta com excertos. Nos 2 primeiros minutos deste vídeo (trecho do CD da Sinfonia), o professor Antunes narra a apresentação:
“Quem nos tiraniza, ARRUDA, arrasa, azucrina; a razão resolve, buzina, Brasília, buzina!“
Brasília não é só o centro do poder institucional brasileiro. Não é lugar apenas de políticos e empresários corruptos. Os 50 anos que a cidade completará no dia 21 de abril de 2010 contemplam também uma história de resistência e criação, de um povo que se atreve a lutar pela democracia usando como armas a organização popular pacífica, inventiva e irreverente. A ditadura acabou, mas a luta democrática jamais terá fim: democracia é por definição imperfeita e inacabada, e só existe onde há gente disposta a construi-la e conquistá-la. O povo do DF assumiu essa tarefa no passado, e a assume hoje: fora Arruda, Paulo Otávio e toda a máfia!
“Sempre haverá luz que se atreva às trevas!“
“Sempre haverá quem se atreva à travessia, ao atroz, mesmo por um triz!“
“Sempre haverá quem se atreva a ser feliz!“
“Somos os fios da manhã de um novo amanhã!“
“Amanhã é a primeira manhã de um novo amanhã!”, dizia a Sinfonia das Diretas. E o Fora Arruda afirma: “Amanhã será maior!”.
O povo unido jamais será vencido. Arruda cairá. Buzina, Brasília!
Poema de Jorge Antunes, recentemente publicado:
“Soneto das buzinas
Brasília tem sons de quietude,
a gente em silêncio se afina.
A paz é uma nossa virtude:
vivemos aqui sem buzina.
Porém, se nos falta a justiça,
se o mal do tirano domina,
mudanças verás na premissa:
a gente recorre a buzina.
Se nossa esperança é pó,
a luz-liberdade ilumina
o grito, a voz, o gogó.
Mudamos então a rotina,
tal como um clamor Jericó:
Buzina! Brasília, buzina!”